FIM.

"Acabei de levar um soco no estômago" foi como descrevi o que havia acontecido naquele momento. O incidente não ocorreu de fato, mas a sensação era similar (e me renderam 2 kg a menos). Meu estômago se embrulhou, e rapidamente senti minhas bochechas corarem com a inconformidade que tomava conta de mim.
Você nem sabia, mas poucos minutos antes eu pensava em como havia sido exigente, exagerada em meus desejos e na minha fantasia. Planejei uma maneira de lhe dizer o óbvio: que eu sentia muito, que você havia sido perfeito em todos os seus defeitos e eu estava enlouquecendo. Estava pronta pra reafirmar o quanto eu estava errada, o quanto aquilo doía, e novamente o quanto eu sentia muito. Lembrei do encontro que tivemos no dia anterior, ou devo dizer DESENCONTRO? O mesmo local de sempre tão igual e diferente. Ali eu já sabia: aquele mundo não mais me pertencia. Já não havia mais espaço pra mim. Eu me calei. Logo eu, sempre com tantas ideias, tantas palavras para serem ditas, tantos pensamentos para compartilhar... Não tinha nada para lhe dar, a não ser minha presença. Esperei que você se aproximasse, como fazia quando a dor te dominava, mas ao invés disso, você simplesmente assistiu a dor se manifestar, agora dentro de mim. "É mais fácil estar desse lado, não é?" eu disse envergonhada ... Você sorriu torto "Não sei. É a primeira vez que estou desse lado". Are you fucking kidding me? Não, não era mais fácil. Pra mim nunca foi. Em nenhuma posição. E naquele momento, eu que sempre tive um sorriso pra cada situação, agora era apenas mãos contidas, olhos perdidos e boca cerrada. A única certeza que eu tinha era que precisava sair do muro. Saí, deixei minhas palavras escritas, tudo o que eu não conseguia pronunciar audivelmente. Saí da sua casa, te deixei ir, porque era sua vez, e eu entendia isso. Dei adeus. Você disse até mais. O universo tem um jeito estranho de manter o equilíbrio. "Vai passar!", pensei. Mal eu sabia que era só o começo do fim: o primeiro passo para a saída da sua vida. O dia posterior foi a sequência.
As redes sociais tem essa característica de duas facetas: faz a informação correr rápido. As vezes mais do que gostaríamos. E um clique foi suficiente pra mudar tudo: a realidade veio sem perdão. Em menos de 10 segundos, uma foto mudou 12 anos. "Eu não acredito" foi tudo o que consegui pensar. E cortar todos os vínculos possíveis foi tudo o que consegui fazer. "Você é bem rápido, não é mesmo?" foi como reagi. "Não é bem assim..." e aqui se iniciou uma série de discussões difíceis de encerrar. Você se defendeu, argumentou quão longo já havia sido o seu sofrimento, ressaltou a injustiça da minha reação. Mas não compreendeu o cerne da indignação: a questão nunca foi "o que" e sim "como". Como quando se fortaleceu, você virou as costas. Como quando eu estive do outro lado, você nada me ofereceu mas a ausência. Você chamou de "seguir em frente", eu assumi como "seguir em frente com covardia". Poderia ter sido diferente. Você poderia ter dito, e eu sairia do seu caminho. Quantas vezes perguntei? Quantas vezes questionei? Quantas vezes pedi? Mas você optou pelo caminho mais fácil: o do abandono. O do distanciamento. O do não-dito. Você não assumiu sua posição. Mas como poderia? Se o fizesse, aquela escolha não seria mais só minha, não é mesmo? É mais fácil quando podemos responsabilizar o outro pelo fracasso. Eu devia saber, afinal, não era a primeira vez. Naquele dia não se foi apenas o amor da minha vida, mas o meu melhor amigo. E por dias meu coração sangrou, dilacerado, um vermelho vivo, o peito literalmente doía. Sangrou pelos 12 anos; sangrou a ferida deixada pela deslealdade; pela perda abrupta da sua presença e do que você representava. Ava. Agora no passado. Agora não mais parte de mim. Agora não mais eu.  Agora você... Alguém que não sei quem. E se me pedirem qualquer informação, já não sei dizer. Excluí também as fotos... Não quero recordar. Não vi as novas. Não quero memórias. Pra que? Nada mais relacionado a você me pertence, só a lacuna deixada na história.
Então seguimos, para caminhos indubitavelmente opostos. Mentiria se dissesse que você não faz parte dos meus pensamentos. As vezes me preocupo. "Está bem? Está vivo?". Mas me recordo: não me pertence mais. Nem uma parte. O pertencer tem um quê de feeling: independente da distância e do tempo, a gente sente. E eu não te sinto. A raiva me dominou no início, e foi minha aliada nessa caminhada: me ajudou a seguir, a aceitar e ressignificar. Mas temo que seu reinado esteja chegando ao fim, e temo pelo sentimento que pode se instalar em seu lugar: saudade? arrependimento? amor?? Não, obrigada. I'm done for this life. Então (egoistamente) apenas desejo que você seja feliz, porque só admitindo a sua felicidade onde quer que esteja eu poderei conseguir a minha. Vá, segue teu rumo e seja feliz. Eu escolhi por nós dois. Você escolheu por si. Agora somos dois... Como era no início. E esse foi meu último tempo dedicado ao longo e breve cruzar de nossas histórias. Então, Adeus.

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