Dentre todos os sentimentos que podem existir, o que mais me preocupa é a indiferença (se é que isso pode ser chamado de "sentimento"). Também acompanhada pelo desdém, pelo desprezo, pela desconsideração, pela apatia e insensibilidade. É o não sentir, o não se importar, o não doer, o não alegrar. Ta certo que a indiferença, de certa forma, é parte da vida, afinal, que turbilhão de ideias seria nossa cabeça se não relevássemos e não nos deixássemos ocupar por coisas que não nos dizem algum respeito. Mas a indifrença que aqui atribuo é aquela gerada pela vida, pela existência... Melhor dizendo: pela experiência.

Nossa pele é composta por receptores de dor, que nos avisam quando um componente, externo ou interno, está nos prejudicando e nos incita a agir, fazer algo a respeito. No entanto, quando nossa pele entra em contato com um estímulo que, naturalmente, deveria causar dor e não sentimos nada, é necessário que se façam exames para diagnosticar a causa, que normalmente é alguma disfunção ou doença. Da mesma maneira é a indiferença. Começa pequena, ignorando um fato aqui, outro sentimento ali e pouco a pouco ela se instala e nos corrói até que dificilmente algo nos sensibilize, nos arranque de nossa zona de conforto.
Muita gente argumenta que as vezes é melhor ser assim, porque pelo menos não há sofrimento em um episódio de frustração ou perda. Mas a verdade é que a indiferença, em determinado ponto, destrói a vida. É difícil largar ou perder aquilo que se ama, aquilo que se quer. Naturalmente nossa primeira resposta em relação a dor que isso nos causa é lutar para reverter o quadro, é nos movimentar. Mas se não tiver como então passaremos pelo processo natural de perda ("depressão", tristeza, aceitação, superação). Ja o ódio, embora negativo, também é um sentimento que não nos permite esquecer fácil, que toma nosso tempo, nossas energias, nossas forças. Mas a indiferença não. Ela não se importa com sentimentos, ela simplesmente deixa ir aquilo que já não quer ou não pode mais ficar. Não liga, não implora, não se entristece, não grita, não se alegra, não reclama... E não bastasse isso, suprime e sufoca no início qualquer sentimento que busque se instalar. Assim ela não nos permite criar vínculos, raízes. Não nos permite nos solidarizar, nos arriscar, nos movimentar. Arrisco dizer que ela chega até mesmo ser pior do que o orgulho.
"O amor e o ódio habitam o mesmo universo, enquanto que a indiferença é um exílio no deserto". Martha Medeiros
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