We'll make a memory out of it

Há alguns anos atrás cometi uma loucura. Me apaixonei pelo meu melhor amigo.
Saímos pra correr. Ele atlético, eu fora de forma. Ele trotava tentando acompanhar minhas pernas curtas e passos lentos demais. Eu tentava fazer o ar chegar aos pulmões. Procurava fôlego."Acho melhor caminhar..." Ele riu. Vamos com calma. No seu tempo. Como você quiser. Mal sabia que essa forma de lidar comigo resumiriam os próximos 3 anos e meio. Como eu iria imaginar? Éramos apenas amigos.
Saímos para jantar. Ele escolheu. Vai ser comida japonesa. Como se segura um hashi? Meu Deus, eu sou um desastre! Mas tudo bem, eu não me importava. Ele também não. Éramos próximos o suficiente pra não nos incomodarmos com esse tipo de coisa. Ficávamos a vontade na presença do outro. A noite passou rápido até demais. Rimos. Comemos. Conversamos. Nos divertimos.
Mas a noite acabou. É hora da despedida. Te vejo amanhã! Então tchau. Espera... Não... Não a mesma despedida de sempre. Dessa vez com um beijo, um beijo de verdade. Fui pega de surpresa. Eu, que nunca acreditei em beijo roubado. O que aconteceu? Eu beijei meu melhor amigo! Ou melhor, ele me beijou. Que diferença faz? E agora? Estava feliz demais pra me preocupar. Estaria eu de fato apaixonada? 
Chegou amanhã. Vamos correr. De novo. Hoje o cumprimento é beijo no rosto. Não. Quero o mesmo de ontem! Afinal, por que não, não é mesmo!? Os dias passaram. Nos aproximamos ainda mais, mesmo quando achávamos que isso não fosse possível. Os dias voaram, ficamos juntos... trocamos olhares, carinhos, abraços, mais beijos, sorrisos e sentimentos. Saí de férias, viagem marcada, peguei o voo. Tão longe, sentia saudade. Onde você está? O que está fazendo? Quero voltar correndo! Sentimento recíproco. 
Mas ali tão longe, sem nada para fazer, comecei a pensar. Tive medo. E se não der certo? E se eu te perder? E se eu te machucar? Acho melhor terminar. Ele não entendeu. "Agora já estou demasiado envolvido. Nos dê uma chance". Ele estava certo. Vamos tentar. Mas Brandon Flowers as vezes insistia em minha cabeça "it was only a kiss, how did it end up like this? It was only a kiss..."
Voltei de viagem. Ele me esperava no aeroporto... Sorriso no rosto e abraço apertado. Felicidade compartilhada. Era assim cada vez que eu voltava de algum lugar. Os dias seguiram, e aquela paixão incontrolável. Preciso estudar/me concentrar! Será que essa euforia uma hora vai passar? Sim, ela passou. Ufa! A paixão ardente deu lugar a um amor calmo e tranquilo. Compartilhamos ideias, planos, sentimentos, abraços, sonhos. Construimos os "nossos": nossos sonhos, nossos planos, nossas vontades, nosso jeito de ser. Nos adaptamos. Discutimos. Fiquei brava porque ele não sabia me dizer não, ele brigou comigo porque eu também não sabia fazer isso. Erramos. Nos perdoamos. Nos amamos. Nos suportamos - fomos suporte um ao outro nos momentos difíceis. Nos irritamos. Conversamos. Nos compreendemos. Nos mudamos. Crescemos juntos. Tivemos ciúmes. Achamos fofo, e resolvemos. Nos respeitamos. Nos alegramos com o outro. Choramos juntos. Nos incentivamos a superar nossos medos, a desenvolver nossas habilidades. Superamos inseguranças. reconstruimos o conceito de "estar juntos". Rimos. Fomos felizes. Muito felizes. Em todo tempo, corremos lado a lado, ajustando os passos, compreendendo as limitações do outro, mas também deixando que cada um avançasse em sua própria velocidade quando necessário, sem nunca nos perdermos de vista. Sem nunca nos abandonarmos.
Mas eu estava prestes a cometer outra loucura. "Precisamos conversar". Estou confusa. É amor ou amizade? Não sei dizer! Deve ser insegurança. Quero ficar ao seu lado. Isso vai passar. Demos as mãos, continuamos juntos, agora sem correr, apenas caminhando lado a lado. Eu já não sabia mais viver sem ele. Eu já não sabia ser sem ele, que me ajudou a ser a melhor versão de mim. Por que tem que ser assim? Falávamos em casamento. Meu coração apertava. Por que? O que está errado? Nada. Tudo. O que fazer? Não posso casar assim. Nossa relação foi baseada em transparência. Preciso ser transparente. É melhor terminarmos. "O que? Por que?" Não sei. Só sei que sim. Cometi a maior loucura de todas: terminei com o amor da minha vida.
Ele me olhou fundo. Fez um chá, na xicará que eu lhe dei. Me abraçou e me confortou enquanto eu chorava, aos prantos. Que ser patético eu sou. Consolada pela própria pessoa que estou machucando. Ele sorriu. Segurava as lágrimas com a nobreza de um príncipe. "Quando quiser, por favor, volte". Fui embora. Carreguei os pedaços, o que sobrou de quem eu era. Entrei inteira, saí metade. Meu Deus, que dor insuportável! Por que eu estava fazendo aquilo? Disseram que o amor era simples! Nós tínhamos tudo... E ainda assim algo faltava. Por que? Por que? Trocamos mensagens. "Podemos voltar ao início? Só para viver esses três anos e meio novamente, mesmo sabendo que chegaria hoje..." ele escreveu. Meus cacos se reduziram ao pó. O que eu fiz pra merecê-lo?  Os dias passaram. Me acostumei com a dor da falta. Parei de chorar tanto. Algumas pessoas descobriram. Pra outras preferi não contar. Elas ainda perguntam "como você está?". Não sei. Apenas estou. Dia a dia tentando ajustar o passo, ganhar fôlego e recuperar o ar.

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